“Esses bens não podem ser transformados imediatamente em dinheiro para restituir os cofres da União, porque as pessoas precisam enfrentar um processo penal. Elas precisam se defender, precisa haver um devido processo legal para que, ao fim, elas sejam ou não condenadas. E, se forem, uma das consequências dessa condenação é a perda desse patrimônio”, ressalta.
Outra alternativa, observa o especialista, é a reparação ocorrer por meio de determinação do Poder Executivo. O professor pondera que essa opção também pode ser morosa por depender do aval do Congresso Nacional. “A reparação administrativa imediata parece pouco provável, porque depende de uma série de variáveis, inclusive a possibilidade de essa questão ter que passar pelo Poder Legislativo”, reforça.
Além disso, há uma questão burocrática de identificar os beneficiários afetados, bem como levantar os valores que devem ser ressarcidos.
“Ainda que houvesse um orçamento específico para que essa reparação aconteça, essas pessoas precisam ser identificadas. E não me parece que é tão fácil assim, de imediato, essa identificação, porque se trata de milhares de pessoas. Segundo lugar, esses valores precisam ser quantificados. Terceiro, esses valores precisam ser atualizados”, considera Marcelo.
Adriane Bramante, diretora do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário (IBDP), orienta que os beneficiários verifiquem, em seus extratos, se algum desconto foi feito de forma não autorizada. Caso identifique o pagamento irregular, é possível registrar uma denúncia no Portal do Consumidor.
“[O aposentado] pode solicitar essa mensalidade de volta, dos últimos cinco anos, daquilo que ele pagou. Pode entrar com uma ação judicial, também, para solicitar de volta, inclusive com dano moral, e cabe também processo criminal”, esclarece a diretora.
Para ela, o INSS deve aprimorar os mecanismos de controle sobre a operação das entidades associadas para evitar novas fraudes no futuro. “Precisa ter um controle maior sobre esses contratos com as associações e investigá-las: apurar quanto tempo a associação existe, quem faz parte da associação, e realmente fazer um controle rígido das associações que permitirão o desconto no benefício do segurado”, destaca.
Por causa de operação da PF, o então diretor-presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, foi afastado e posteriormente demitido por determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A megaoperação também resultou no afastamento, por um período de seis meses, de outros quatro membros da cúpula do órgão. São eles:
Ao todo, foram cumpridos 211 mandados de busca e apreensão e seis de prisão contra alvos no Distrito Federal e em 13 estados. A operação também apreendeu motocicletas e carros de luxo utilizados pelos investigados.